Deixo ao
cego e ao surdo
A alma com
fronteiras,
Que eu quero
sentir tudo
De todas as
maneiras.
Do alto de
ter consciência
Contemplo a
terra e o céu,
Olho-os com
inocência. . .
Nada que
vejo é meu.
Mas vejo
tão atento
Tão neles
me disperso
Que cada
pensamento
Me torna já
diverso.
E como são
estilhaços
Do ser, as
coisas dispersas
Quebro a
alma em pedaços
E em pessoas
diversas.
E se a
própria alma vejo
Com outro
olhar,
Pergunto se
há ensejo
De por isto
a julgar.
Ah, tanto
como a terra
E o mar e o
vasto céu.
Quem se crê
próprio erra,
Sou vário e
não sou meu.
Se as coisas
são estilhaços
Do saber do
universo,
Seja eu os
meus pedaços,
Impreciso e
diverso.
Se quanto
sinto é alheio
E de mim se
sente,
Como é que
a alma veio
A acabar-se
em ente?
Assim eu me
acomodo
Com o que
Deus criou,
Deixo teu
diverso modo
Diversos
modos sou.
Assim a Deus
imito,
Que quando
fez o que é
Tirou-lhe o
infinito
E a unidade
até.
(Fernando Pessoa)